quinta-feira, 16 de junho de 2011

Inferno e Céu - 1ª Parte

O desenho fui eu quem fiz, mas o tratamento (cores, texturas, ou seja, o mais difícil) da imagem ficou por conta da minha amicíssima e mágica Moana (blog: acabouminhabic.blogspot.com)

1ª Parte – Antes da noite.


Outro dia fiz uma viagem. Uma pessoa me contou que além daquela estrada havia encontrado sua vida. Voltara para cá após alguns anos, decidida a mudar a vida de todos, inclusive a dos mais próximos; e um deles; eu era um passante daquela rua naquele dia chuvoso. Ela me contou sobre a bela experiência que viveu e me mostrou as maravilhas que trouxera de lá, coisas tão preciosas e tão bonitas, que não consigo descrever.

No meu caminho não havia obstáculos intransponíveis, mesmo após caminhar durante algumas horas em uma estrada irregular, fadigado e com frio. Na estrada que não tinha um limite visível as únicas coisas avistadas no horizonte eram nuvens, muitas e de vários formatos e bem ao longe quase no limiar de onde se perdia o horizonte havia uma árvore seca. Após três horas caminhando cheguei à metade do dia de caminhada e ia também alcançando a árvore. Meu horizonte agora havia mudado. De longe eu avistei um prédio e ao lado da árvore, agachado, havia um menino. Talvez estivesse descansando de tanto andar, porém ao me ver, levantou-se rapidamente, pegou uma sacola cor de vinho que jazia nos pés da árvore e colocou-a sobre os ombros; feito isso, voltou para a  estrada lentamente, retardando o passo a fim de que eu pudesse alcança-lo. Quando eu estava a uma distância de sete passos do pequeno, ele gritou:

- Apresse mais teu passo! Temos que chegar ao prédio antes que a noite apague a estrada e o nosso caminho! A noite aqui, nada se vê e nem se escuta; há somente o odor de água podre vinda do outro lado, onde o rebanho de um fazendeiro morreu.

Como solicitado, caminhei mais rápido. O menino na frente me guiava pelo caminho, sem pronunciar mais nenhuma palavra depois do aviso anterior. Reparei que ele usava roupas surradas demais, sandálias velhas cheias de furos, os cabelos castanhos e lisos eram emaranhados e sujos de areia. Cabelos de um garoto explorado. Não consegui, no entanto, durante o caminho ver a face do menino, pois durante todo o caminho e até mesmo durante o aviso, ele não se virou para trás. Apenas continuava andando rápido em uma marcha violenta travada contra as pedras e a areia do chão. A sacola ele não mudava nem de ombros, segurava firme, sem sequer balançá-la.

Quase anoitecendo, chegamos ao pé da construção velha. Na frente do prédio havia um portão enorme, com detalhes dourados nas bordas; pareciam espinhos, fogo e água. Acima brilhavam inscrições prateadas, que pareciam ter sido feitas por um excelente artesão. Diziam: “Aqui se vai à glória e ao desespero. Aos firmes, compadecei-vos. Aos benditos, rogai-vos. Se são puros, aprendei a pedir. Fardos aqui não cabem. Ficai do lado de fora os limpos e os destemidos.”

Percebendo que impressionaram-me as palavras do portão, o menino (sem se virar para mim) disse:

- Se pode ler o que está escrito, é porque é sua hora de entrar. Não olhe para trás, pois o futuro pode te deixar. Eu ainda irei te guiar aqui até uma parte. Portanto, não se perca.

O menino entrou no prédio e eu fiquei parado por alguns segundos naquele portão recuperando o fôlego e a razão. Não havia um caminho de volta e nem de desistência, eu podia somente seguir em frente. O portão aberto e ao lado as duas figuras mais estranhas estavam a me dar boas vindas. O medo e a morte cantavam ópera. E assim como um cordeiro deve seguir o caminho do pastor, eu entrei.

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