sexta-feira, 19 de junho de 2009

Amor à Causa




Sou um grande defensor das causas feministas.

Luto pela igualdade incessantemente e só descansarei quando homens puderem cuidar da casa e das crianças, e suas mulheres, proletárias, os puderem sustentar, sem serem ambos mal vistos por essa sociedade hipócrita e machista.

Certo dia estava sentado num ônibus e uma mulher se posicionou de pé ao meu lado, por falta de acentos disponíveis.
Me olhou por algum tempo e depois, num tom de brincadeira, mas jogando um verde, pediu, “Seja cavalheiro. Me ofereça seu lugar.”
Eu, sem rir ou esboçar reação, respondi secamente “Não!”, e abaixei minha cabeça.

Me senti como o Peter Parker, que temendo pela proteção da Mary Jane, por amor, lhe deu um toco em 'Homem Aranha', ou como aqueles garotos que, com grande pesar no coração, gritam com sua amiga cheeta pra que ela volte para seu habitat natural e viva como vivem as cheetas, num filme da Sessão da Tarde.

Me doeu bastante, mas eu o fiz. Por amor à causa.
Uma lágrima me correu no canto do olho enquanto eu pensava comigo: “Espero que um dia você compreenda, amiga. Espero que compreenda...”


(por Zé Mingau)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Lições



Ele correu...

Como um louco. Das dunas ao forte.

Queria provar pra si mesmo que não era só um sedentário suburbano.

Queria provar que dominava outros territórios alem do escritório.

Ele sabia que isso não era verdade, mas se provasse viraria verdade.

Chegou ao forte, ofegante, o coração na boca, correu pela lateral e começou a escalar as pedras, agindo e grunhindo feito um selvagem.

Um pequeno escorregão não seria nada, não fossem as frieiras que lhe surgiram devido ao tempo que passava de sapato em dias de trabalho. Uma pequena e pontiaguda pedra lhe arranhou entre os dedos, e a dor foi tão aguda que soltou uma das mãos.

Curvou-se pra trás e caiu entre as pedras. Uma delas lhe feriu a nuca.

Agonizou por pouco tempo e seus olhos se fecharam definitivamente.

O que foi um alívio, pois a maré subia.

Se não fossem as frieiras ele teria alcançado o topo.

Estaria vivo. Muito mais do que sempre esteve.

Voltaria tão confiante que certamente conseguiria uma promoção.

Se eu fosse você, esfregaria bem esse pé...


O garoto assustado, com os olhos esbugalhados assentiu com a cabeça sem dizer uma palavra enquanto entrava no banheiro.



(por Zé Mingau)